segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Experiência number ett


De todos os quartos de uma só janela, eles se conheceram justo naquele em que as cortinas eram pesadas e escuras, bloqueando grande parte da luz solar. Aquela que, com graça, consegui escapulir para dentro do cômodo criava na cortina uma borda luminosa e amarela. Quem estivesse à porta acharia o fenômeno um tanto quanto divino. Porem, indivíduo 1 estava de costas para a janela, enquanto indivíduo 2 estava de frente ao primeiro, de modo que o efeito nas cortinas não estava visível. Trocaram olhares, o passo mais importante na hora de conhecer alguém. Dependendo do modo com que duas pessoas se olham, elas decidem de que modo vão iniciar a conversa. Indivíduo 2 concerteza estava menos tímido, e logo se expressou. Indivíduo 1 sorriu, abafou a resposta virando o rosto para o chão. Riu tímido.
Logo logo estavam sentados, um avaliando o outro. O nariz torto de 1. As sardas em 2 e a sua franja ruiva. Parece com a Rita Lee, pensou 1.Que gracinha, pensou 2. Para o observador, era óbvio que já haviam conhecimento um do outro previamente. Porem era claramente o primeiro encontro pessoal. O indivíduo 1 acabou por superar suas barreiras e iniciou uma série de perguntas curtas, para as quais 2 procurava respostas inteligentes e engraçadinhas. Ambos riam de nervosismo de tempo em tempo. Indivíduo 2 começou a contar das suas experiências, das suas decepções. Indivíduo 1 ficou surpreso com tamanha facilidade de se abrir. Ficou quieto, ouvindo, de tempos em tempos aprovando com a cabeça ou com olhares significativos.
Se cansaram dali, queriam dar uma volta. Porem o sol estava se pondo, não havia luz elétrica e decidiram acender uma ou outra vela que por ali havia. A cena ficou perfeita. Ambos no chão, encostados na parede, iluminados por dois efeitos de luz distintos. As chamas curtas lambiam-lhes o rosto enquanto o sol escasso introduzia o breu e dava um quê de sobriedade ao lugar. Ficaram em silêncio então.
Foi quando indivíduo 1 pegou a mão de indivíduo 2 e começou a estuda-la. Fazia comentários sobre místicas que havia lido em semanais baratos. Coisas da vida impressa no corpo. Coisas de que indivíduo 2 não entendia, porem ficou feliz em ser tocado. E tocou de volta, a mão, o rosto. Tocou nas imperfeições dos lábios, de leve.
Tinha de ir embora, e o fez. Porem não sem antes abraçar o outro indivíduo e dar-lhe um beijo na bochecha. O indivíduo 1 voltou a se sentar. A mente percorrendo todos os segundos compartilhados nas ultimas três horas. E se sentiu muito leve, sorriu para as sombras. E foi adormecendo à medida que as velas derretiam, e o sol dava seu ultimo beijo no céu. E acabou por ficar lá, até que o frio voltou.

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