domingo, 18 de abril de 2010

Morte precoce

Por que foste acordar? Quanta audácia a tua, abrir os olhos no inferno, ver queimar a tua pele, teu corpo rebelde te dilacerar, o coração poetizar babulcios, cantigas fatídicas de amor. Aos poucos, tua voz morrer precocemente. O néctar amarelo do teu fígado à centímetros do seu rosto. O veneno quase todo erradicado, só faltando aquele final da garrafa, os poucos raios de sol que sobraram na carne uma vez morena.
E você não pode dormir, tentar sonhar com noites melhores. Teu mal é uma dor constante, de vontade própria. A cama já não é um refúgio seguro,
os cômodos não são aconchegantes e a realidade é simplesmente fria demais.
Você é orgulhoso, ou fraco, demais para gritar em socorro, se esforças para sofrer sozinho. Mas é inevitável, no final, o amor que você deu é o amor que te dão em troca.

Escapando, sobrevivendo, acordas para um novo dia, em um inferno nada pior.

Meu amor, se tiveste-me dito que eu ia morrer, acreditaria sem dúvidas.
Não havia porquê me enganar naquele momento, naquela madrugada quente e abafada. Eu pensei, acreditei sem dúvida, de que assim morrem as estrelas, já pálidas, toda sua vida vomitada na pia, no chão do banheiro, sem forças, com seu amor ao lado, rezando para que o brilho voltasse, e ele voltou.
O mundo não conseguiu erradicar seu rato trovador.

Agora, quem envenenou meu Gim Tônico?

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