domingo, 1 de agosto de 2010

As manhãs de domingo antecipado são todas irmãs. Horas onde o sol ainda é um sonho, uma futura pálida figura no horizonte. Mais ainda não, não. Quem reina a madrugada é o vazio. A ausência de sons, pessoas, manifestações. O silêncio dos carros, dos pássaros e do vento. Como um suspiro, a madrugada se arrasta sem grandes emoções. É o café expresso do dia, a refeição essencial para que ele decole, e as horas voem, os segundos tornem-se fagulhas e o dia uma prova de resistência.
E então meus dedos tocam a gasolina, nas primeiras horas do dia. E o cheiro não vai embora, ele resiste. As horas deste dia são saudosas da madrugada volátil. Volátil da gasolina dos meus dedos. Volátil dos pensamentos errantes, próprios.
Ideias tolas típicas das quatro da manhã. Um exemplo: Passar gasolina nos dedos. Por que? Porque chega as seis da tarde e eu sinto vontade de pintar com fogo. Queimar paredes sujas de terra, formar bolhas na pintura que descasca e então apagar a chama em mais gasolina.

Mas querido, assim você se machuca.

Mas querida, assim você me sufoca.
Você não vai se queimar?
Você não vai se calar?

A madrugada contraria-se, não se cala. O filme continua a rodar, mudo. Mas o cinza não se cala. A musica parou de tocar. E a nuvem não se afasta. Eu já adormeci, mas o sol ainda não raiou.

E como se nada houvesse ocorrido nasce o dia, ignorando totalmente o silêncio da madrugada.

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